sexta-feira, 27 de maio de 2011

25 de Abril, agora, trinta e sete anos depois…



Reconheço-me como um espectador fascinado pelo 25 de Abril.
Por isso, quando a Escola Secundária de Mem Martins me convidou a participar numa conferência comemorativa da data, resolvi traçar a minha intervenção, não como uma análise, descrição e interpretação de factos, mas sim, como uma recordação de sentimentos sobre um acontecimento que, para mim, como investigador, foi (e é), sem margem para dúvidas, um dos mais marcantes da História Contemporânea de Portugal e, simultaneamente, como “ser” e “cidadão”, aquele que se inscreve, na sua representação e na sua substância, como sinónimo de excelência de Liberdade.

Pois, aqui ficam as fichas que utilizei para orientar a minha intervenção de lembranças:

PRIMEIRO MOMENTO
Para perceberem os sentimentos com que eu (jovem de dezasseis anos), recebi a notícia de que algo estava a acontecer em Lisboa que iria modificar as nossas vidas, tenho que recorrer a uma apropriação de palavras que não são minhas, mas que descrevem, primorosamente, aquele momento. Escreveu-as Sophia de Mello Breyner: «Esta é a madrugada que eu esperava/ O dia inicial inteiro e limpo/ Onde emergimos da noite e do silêncio/ E livres habitamos a substância do tempo».

IDENTIFICAÇÃO E LIGAÇÃO FAMILIAR
Jovem estudante, filho único, de uma família antropologicamente ligada ao mar e à Ericeira (avô materno, pescador e avô paterno marítimo), mãe doméstica e pai, primeiro mestre de oficinas na escola Fonseca Benevides e, depois, oficial de máquinas da marinha mercante.

POSICIONAMENTO IDEOLÓGICO FAMILIAR
Como consciência de classe, toda aquela que é forjada no “pão que o diabo amassou” e, em ambos os casos, numa militância proporcionada pela paixão dos livros e pelo sentido de justiça, a par da incompreensão dos porquês do medo de ser ouvido a exprimir a discordância, o receio, o desejo ou a esperança.

EDUCAÇÃO E INFÂNCIA
Cresci dentro e fora de casa, brincando com a possibilidade de poder ter alguns brinquedos, trazidos de outras paragens europeias, e não, tão-somente, aqueles que em esforço tentava tocar, enquanto esborrachava o meu nariz na montra da loja de brinquedos “Kermesse de Paris”, junto à estação do Rossio; Cresci com os sabores trazidos de outras paragens africanas, mas sabendo que aquelas bananas, aquele açúcar, aquela castanha de caju, aquelas lagostas, aquele chocolate em pó eram um privilégio; Cresci no conforto do agasalho comprado na “Rosicler”, na Rua Augusta, em Lisboa; Cresci, recebendo como herança a possibilidade de aprender mais do que saber ler, escrever ou contar, em escolas e colégios particulares.

PRINCIPIOS E POSTURAS
De meu pai recebi a responsabilidade de ter que cumprir com o aproveitamento do que me estava a ser oferecido. A exigência ficava-se, porém, por um desejo de pai de ultrapassar o que lhe tinha, a ele, sido proporcionado.
No ser jovem, foi-me proporcionado o direito de deixar de os acompanhar, de também ter a minha própria vida, fora do seio familiar. Todavia, isso era feito numa base de confiança de responsabilidade. Recordo-me, quando eles iam passar o fim-de-semana à Ericeira e eu ficava em Caneças, meu pai, antes de sair de casa, chamava-me e fazia-me percorrer, com ele, todas as assoalhadas. No fim, perguntava-me: «viste como a tua mãe tem a casa?»; E à minha interjeição de concordância, dizia-me: «óptimo, pois é assim que eu quero encontrá-la quando chegar».

O MUNDO QUE MEU PAI MEU DEU
Sobre o mundo que ele conhecia e sobre o Portugal em que ele vivia, encheu-me as estantes com romances, alguns deles clandestinos, comprados por debaixo do balcão da livraria “barata” ou em Luanda, antes das apreensões e do “fogo purificador” dos censores. Recordo-me, ainda, das idas nocturnas à Feira do Livro de Lisboa, percorrendo os pavilhões, numa procura dos títulos possíveis e desejados. Foi dessa forma que recebi o seu contributo e fiz, de minha, a sua consciência.

O MEDO
A par do incentivo dado e da liberdade de os ler, aqueles livros tinham que obedecer a uma regra de ouro, não podiam sair para a rua nem serem emprestados.
Aliás, tudo o que era fala familiar, independentemente, de ser sobre algo que se presenciou, que se soube ou que se ouviu, fosse na paragem do autocarro, no talho, na leitura de um jornal ou nas entrelinhas das entrevistas do Fialho Gouveia ao Raul Solnado, nas noites televisivas do ZIP-ZIP, tudo estava restrito à surdina do falatório de casa, regendo-se, sempre para o exterior, pelo silêncio de quem não sabe, não ouviu ou não viu.
Lembro-me de quatro episódios em que esta «lei familiar» foi realizada, a primeira sobre o acidente do Cunene, durante a viagem para São Tomé (1972) – o navio transportava fogo-de-artifício, destinado a uma próxima visita presidencial à ilha. e material e munições de guerra para Angola. Toda a tripulação foi interrogada pela PIDE e obrigada a manter sigilo sobre os acontecimentos (este mesmo navio tinha sido alvo de sabotagem revolucionária, efectuada pela A.R.A., em finais de Outubro de 1970); O segundo, também ele relacionado com questões marítimas, tinha a haver com o «caso Angoche» (Abril de 1971) ; O terceiro, quando fui numa viagem a África, na qual fui avisado que não deveria ter qualquer tipo de conversas com um determinado individuo que, também, viajava no navio (individuo esse que era agente da PIDE); O quarto, vivido por nós três, quando, uns anos antes, fomos “expulsos” do recinto da santuário de Fátima, porque a minha mãe se esqueceu que a sua devoção à “Virgem Maria” não lhe permitia apresentar-se num vestido de “manga à cava”, saia pelo joelho e de cabeça descoberta; O meu pai poderia ficar desde que desarregaçasse as mangas da camisa e eu, manter os meus calções vestidos porque, apenas, tinha dez anos. Mesmo, nessa altura não era conveniente comentar os despropósitos destes fundamentalismos.

O SER FILHO HOMEM E A GUERRA NO ULTRAMAR
Como filho varão, destinado a ser mais um guerreiro, dentro de poucos anos, recebia por parte de meus pais os sinais da revolta e da angústia de me vir a transformar carne para canhão, em terras distantes e por razões não aceites.
Meu pai aceitou a minha escolha curricular, quando lhe disse que ia para Letras, e compreendeu a minha decisão de passar a «História» para segunda alternativa e a «Administração Naval» para primeira opção. Ele não queria isso, pois essa escolha representava a uma vida de afastamento e ausência, de Natais e aniversários festejados por carta e telegrama. Mas, ele, também, sabia que os oito anos de serviço obrigatório na marinha mercante, seriam diferentes da fuga para o exílio, da vergonha social apontada pela deserção ou, infindavelmente melhor, que a morte ou o estropiamento como hipótese de regresso da guerra.
O seu sim foi feito de silêncios e de uma condição: estava fora de questão a ida para a pesca do bacalhau ou para a cabotagem em costas africanas.
Paralelamente, a senhora minha mãe, ouvindo o que os homens da casa tinham decidido entre si, terá, decerto, chorado num justificado picado de cebola, a amargura de ter a certeza que a sua solidão, que era até agora de mulher, passaria a ser, também, de mãe. Mas, também ela quis que eu percebesse que a minha razão era aceite, tanto mais, sabendo que me tinha incutindo na minha formação de homem, os mandamentos da sua crença num Deus que dizia “não matarás” o teu semelhante. E porque não precisava de justificações ideológicas ou políticas para contestar aquela guerra, porque lhe chegava a sua razão, um dia, de manhã, bem cedo, chamou-me, passou-me para a mão um saco de pano cheio de fruta, maços de tabaco, que reconheci serem do meu pai e as minhas revistas do “Mundo de Aventuras” e, perante a minha interrogação, disse-me que íamos a Lisboa ofertar, tudo aquilo, a quem precisava. Sem saber para onde ia, segui contrariado e distraído um caminho que ficaria, para sempre, como a minha saída da adolescência e a entrada no mundo dos adultos.
Chegados à porta principal do Hospital Militar da Estrela e, perante a interpelação do militar presente na portaria, ao que vínhamos, minha mãe respondeu de forma directa e de “olhos nos olhos”: quero, com o meu filho, visitar militares que estejam hospitalizados e que não tenham família que os venham ver. Não sou “madrinha de guerra” nem pertenço a nenhum movimento.
Ainda hoje, estou para saber se a continência que aquele militar fez à minha mãe, foi em resposta ao tom seco e, de certa forma, autoritário que ela deu ao seu propósito, se foi um sinal de respeito e reconhecimento. Uma coisa é certa, ao perfilado, “com certeza, minha senhora”, seguiu-se a ordem a uma ordenança para nos acompanhar até à enfermaria “x”, do piso “y”. Não me lembro das designações, lembro-me, isso sim, que foi no inferno que entrei. Vi a guerra escrita em corpos retorcidos de dor, pela falta da pele, da carne e dos ossos; vi espaços vazios de pernas e de braços cobertos por lençóis brancos; ouvi lágrimas escorrendo, tanto das faces agonizantes, como das palavras grunhidas sem boca; vi mãos tacteando as ofertas, procurando reconhecer que fruta era aquela.
Não foram os “nãos”, nem os “deixe-me em paz” ou os “desapareça!”, às perguntas de, “posso deixar-lhe uma peça de fruta?”, ou “fuma?”, ou, ainda, “quer uma revista para se distrair?” que me impressionaram. Até, porque não foram muitos e, os “sim” superaram esse número. O que, verdadeiramente, me incomodou, foi os silêncios daqueles que não responderam, pois senti-lhes a morte a levá-los, num abraço consentido.
No Natal desse ano, desliguei a televisão quando começaram as mensagens de “Boas Festas e Feliz Ano Novo”. Fiquei com receio de, caso a minha mãe quisesse ir ao Hospital Militar da Estrela, pedir misericórdia a Deus, eu encontrasse um daqueles rostos.

MILITÂNCIA SOCIAL
Socialmente, reconheço que não tive qualquer militância partidariamente política (nem sequer pertenci à mocidade portuguesa); Todavia, tive uma ligação associativa, na Sociedade Musical e Desportiva de Caneças que me proporcionou, entre 1972 e 24 de Abril de 1974, uma experiência de vida que me ajudou a compreender a realidade que me rodeava e, consequentemente, a construir a minha decisão de não querer ser figurante daquela situação. Entre muitas acções associativas, registo, duas como determinantes. A primeira, através do grupo de teatro amador, quando levámos à cena o «Auto da Compadecida», transformando aquele auto de literatura de cordel, de três actos, de 1955, escrito por Ariano Suassuna, numa subtil comédia de crítica ao regime – naturalmente, que a nossa “adaptação” só foi representada depois de a censura nos ter visado o espectáculo.
A segunda experiência, marcada por uma interrupção de «explicações» que estava a dar a três adultos, que preparavam o seu exame de 4ª Classe, agressivamente feita pela GNR, de espingardas em riste. A justificação daquela presença policial era de que tinham sido avisados que estavam a assaltar as instalações da sociedade. A verdadeira razão, viemo-la a conhecer após o 25 de Abril, quando nos foi confirmado que havia ordem da PIDE para a GNR de Loures executar uma rusga preventiva e selectiva dos elementos do grupo de teatro e de alfabetização da sociedade; Mas como encontraram, apenas, três «gatos-pingados», que, por mera coincidência, tinham ficado até mais tarde, e não estavam nomeados como potenciais e declarados oposicionistas, lá nos deixaram ir para casa.

REPRESSÃO
Numa estive preso nem fui interveniente directo numa acção em que tivesse havido repressão policial justificada pela proibição do acto, era demasiado jovem para me envolver conscientemente numa acção subversiva.
No entanto, estive envolvido em duas situações repressivas, por um lado por estar «no local errado, na hora errada», e por outro, porque a repressão era cega, desmesurável e, acima de tudo, demonstrativa da agonia em que o regime vivia para controlar os justos protestos da população. O primeiro caso, passou-se dentro do Liceu D. Pedro V, em Sete Rios, durante os exames orais nacionais do 5ºano, em 1973, quando fomos obrigados (alunos, familiares e professores), a sair do bar da escola, à bastonada; devendo-se esta carga policial ao simples facto de ter havido alguma exaltação e protesto, por parte de quem estava, esperando há várias horas para fazer as matrículas e viu, de repente e sem explicação, o encerramento da secretaria. A polícia foi chamada – provavelmente, pelo «gorila» da escola – e, sem olhar a quem, entrou nas instalações liceais agindo prepotente e violentamente.
A segunda vez em que vi esta brutalidade e ouvi a dor do seu resultado, foi já muito perto do 25 de Abril, na Rua do Malpique, quando a poucos metros do portão do colégio Moderno, para onde me dirigia, me vi obrigado a refugiar-me na livraria “Bertrand”, para não ser apanhado pela carga da polícia de choque que perseguia os estudantes universitários.


RESUMIDAMENTE, é fácil perceber porque o 25 de Abril representa «a madrugada que todos nós esperávamos». Era para nós, jovens e menos jovens, homens e mulheres, o fim de um regime de censura, de obscurantismo e de repressão. Era, para nós, a possibilidade de alterar toda uma situação de ausência de liberdade, de atraso estrutural, de imobilismo do desenvolvimento, de desequilíbrio social gritante e, acima de tudo, a possibilidade de por fim a treze anos de guerra que consumiam todos os recursos do país, empenhavam o seu futuro e destruíam toda uma juventude promissora.
O 25 de ABRIL de 1974, é o resultado directo de um processo de progressiva consciencialização dos militares acerca dos fundamentos que o regime político vigente impunha para justificar a continuação da guerra no ultramar.
Acrescido a este processo, temos uma situação militar que se degradava e exigindo, cada vez mais, recursos humanos e materiais. O progressivo desequilíbrio militar, na Guiné, a favor do PAIGC vai despoletar a compreensão de toda a estrutura militar, naquele território colonial, de que a guerra não poderia ser ganha pela força das armas,
Paralelamente – e isto é vulgarmente considerado como detonador do movimento dos capitães –, são publicados dois decretos-lei reguladores do acesso de oficiais milicianos ao quadro permanente, provocando estas medidas governamentais uma reacção de contestação no seio das forças armadas.
É deste movimento de contestação, algo cooperativo, que começam a efectuar-se reuniões clandestinas por parte dos capitães (a de Bissau e a de Évora são exemplos disso), primeiro numa tentativa de resolução do problema criado, para, num segundo momento, perante as inadequadas respostas governativas, transformar-se o movimento dos capitães num processo conspirativo de fundamentos políticos.
O percurso e a edificação deste movimento até à concretização do golpe militar, na madrugada de 25 de Abril de 1974, é complexo e representa uma crescente consciencialização de grupos, de posições políticas e, consequentemente, de definições de propósitos e de objectivos a atingir.
Operacionalmente, todos os dados ficam lançados às 14 horas do dia 24.
Segundo Aniceto Afonso, «Nas unidades, discretamente, apronta-se a acção. (…) Quando Otelo e o seu estado-maior se concentraram no Regimento de Engenharia 1, na Pontinha, unidade escolhida e preparada para funcional como posto de comando, o Movimento das Forças Armadas estava prestes a espalhar em todo o Portugal uma onda de esperança, de alegria e de entusiasmo. Era a libertação a despontar.»
Pelas 22.55 horas, o locutor João Paulo Dinis, de serviço nos Emissores Associados de Lisboa anuncia: - FALTAM CINCO MINUTOS PARA AS ONZE HORAS. PAULO DE CARVALHO CANTA, «E depois do adeus».
Está desencadeado o golpe militar.
Às 00.20 horas, o locutor Leite de Vasconcelos, no programa Limite da Rádio Renascença, lê a primeira estrofe da canção «Grândola Vila Morena», de Zeca Afonso

«Grândola vila morena
Terra da fraternidade
O povo é quem mais ordena
Dentro de ti ò cidade»

É a entrada em acção da certeza da utopia de se saber que «Esta é a madrugada que eu esperava/ O dia inicial inteiro e limpo/ Onde emergimos da noite e do silêncio/ E livres habitamos a substância do tempo», para DEMOCRATIZAR o ser, DESCOLONIZAR o ter e DESENVOLVER o estar.

Enfim, foi extraordinariamente bonito e gratificante e, mesmo que venha a sentir algum desalento, trinta e sete anos depois, pelo menos, só o facto de ter vivido aquele momento, sinto-o como um previlégio de vida.

Sintra, a mui prezada...[Crisfal, século XVI]


sábado, 21 de maio de 2011

O Meu Mar

Arte e Sensibilidade. Oferendas de minha filha, Maria Montoito.



Da minha Janela I



Da minha Janela II



Da minha Janela III



Da minha Janela IV



Da minha Janela V

Recordação Fotográfica



Joaquim José da Silva Montoito
(1929 - 1977)

Choro para recordar
Aquele sentir de ser filho.
Só que não te oiço.
Nem te sinto.
Apenas te vejo,
Sempre com o mesmo sorriso.
És recordação emoldurada,
Passado silencioso.
Saudade que não esqueço,
Por vontade impossível,
De que já não és
Aquilo que gostava que fosses,
Vivo!


EM

quinta-feira, 24 de março de 2011

Escrever

Reencontro com momentos de desabafos solitários, escondidos na gaveta da memória.
Escritos num outro tempo, sem qualquer intenção de serem um começo, um meio ou um fim de qualquer coisa e tendo, apenas, como elemento comum a representação dos tumultos e conflitos íntimos de um homem que, apesar de se sentir bem consigo mesmo, estava contraditoriamente sem saber se gostaria ou não de ter sido outro homem.

Escrever.

Escrever e continuar a escrever. Sempre o que sentes.
Escrever é procura constante.
Escrever é ideia perdida que não se consegue esquecer.
Escrever é algo para sentir, sem ter necessariamente sentido.
Escrever é lágrima e sorriso por sensação.
Escrever é quando um viver depende de um querer.
Escrever é ser solitário por entre a multidão.
Escrever é estar triste ou contente.
Escrever é dominar tormenta.
Escrever é não ser vencido mas vencedor.
Escrever é conquistar por dor.
Escrever é gritar o que se sente.
Escrever é ignorar vergonha de ter ou ser.
Escrever é castelo que tenta.
Escrever é imagem que se percorre.
Escrever é flor que se deseja.
Escrever é corpo que treme.
Escrever é tristeza que fica.
Escrever é recordação que não morre.
Escrever é companhia divina.
Escrever é sentimento de contentamento.
Escrever é ciúme de troca.
Escrever é saudade que lembra.
Escrever é temor de doente.
Escrever é quando se compreende.
Escrever é a fuga escondida que toca.
Escrever é pequena palavra de crente.
Escrever é tudo e apenas amor.

E, tudo ainda, no escrever... o que se sente.


......


Insisto

Quero a noite !
Quero a infinita luz que ela tem,
porque, enquanto me percorro,
caminho ouvindo os meus passos
e livre me sinto para pensar ilusão.

Quero a noite,
para me dissolver em volúpia,
mutação de corpo em alma,
fim de fronte1ra desta vida,
em desejo que domina a dor por gemido.

Quero a noite,
porque não existe ruído
e sim, sensação, choro e grito.

......


Quando salto aquele muro

Escuto a música enquanto as vozes se confundem
em misteriosos desígnios.
Ouço falas, ouço risos,
como cantares que saltam com palavras que deslumbram.

Espero,
até que surge,
por entre nuvens de alegria e pensamento,
aquilo que é o meu vinho:
o sonho que sinto.

É melodia que avança,
como névoa que se interioriza no meu ser,
quando suavemente percorre todo o meu corpo.
É voz que me diz ser outro,
em oferta que me preenche,
por riso e companhia;
E que, por vezes, me faz ser diferente
quando me ensina aquilo que verdadeiramente sinto.

É caminho através de outros céus.
São estrelas quentes que derretem outros ventos,
que afastam antigas recordaç3es.
É sentimento a que ergo a minha ternura,
com brilho de olhos a lutar por procura,
em fim de estrada de solidões.
É amor, desejo, rumo eterno
que nega a chegada de qualquer outro momento.
É querer viver paixão,
em amar sem conseguir descrever o tempo,
noutra cousa, que não seja aquilo que sinto,
quando sempre salto aquele muro,
como se tratasse de outro sentimento.
Solidificadas as ideias...

Houve tempos que percorri passos de grande mundo.
Pensei ser muito, quis ser outro.
E, por mim, vi que para construir tudo, só lutando pela morte de monstro, que com correntes toma o pensamento,
transformando homem livre em ser preso, obrigando-o a combater por ser outro.

Sonhando. Em guerreiro de filosofias conquistei.
por minhas vidas em luta combati,
à procura de pão, paz e utopias.

Agora, por muito diferente que eu seja,
além deste momento, ficará por sentido desejo,
a ideia que resta de ser igual a quem esteja
em sol e sofrimento, mas sempre livre neste ensejo.

E, por muito que digam, entre boca e dentes,
que papoilas em campo são todas diferentes.
Eu respondo:
Foi em terra de saber que semeei, foi em trabalho que vivi.
Eram frutos, eram desejos, transformados em tijolos de sentimentos.
E, entre todos eles, eu sempre senti,
que por muito distintos que sejam, por todos eles
até qualquer Deus disse sim.

Agora que sinto que estou perto do fim,
grito por aquele contributo,
– onde justiça serve para ser paz –,
porque de ideal tomado pode a voz haver muito,
enquanto a palavra será tudo, quando igual for
todo o ser dono deste mundo.

E, mesmo com a certeza que tenho de em pó me transformar,
pelos tempos, a vida neste mundo,
posso pensar em querer que transformadas as ideias,
– quer sejam por momentos ou inteiras folhas –,
desde que em todos estejam criadas, bastará o pensamento falar
para que fiquem como casas, com paredes e telhas,
porque ventos, não vão os homens conseguir mudar.


......

Gira Espingarda de Menino

Num Diário de Notícias, lido de uma forma exaustiva, própria de disponibilidade de fim-de-semana, tomei conhecimento de uma exposição de fotografia, da fotógrafa americana Nina Berman, na Jen Bekman Gallery, de Nova Iorque, denominada Purple Hearts e que retrata pessoas reais que participaram na guerra do Iraque e que regressaram com as marcas dessa cruel, desnecessária e inconsequente guerra. Entretanto, viajando na internet, vi algumas fotos desse «manifesto antiguerra» de Nina Berman Photography.
Essas imagens trouxeram-me à memória outras guerras e outros tempos.

Tive a sorte de ter sido poupado à demanda da ida para África, em força, pelo que não senti as balas e os medos, nem vivi as incertezas do regresso. No entanto, foi-me dado a ver os horrores dos sobreviventes desfeitos e solitários. A senhora minha mãe, numa profilaxia de saber de mulher deu-me a consciência política, da mesma forma que me tinha dado a vida, e mostrou-me o sentido da solidariedade, levando-me ao Hospital Militar de Lisboa, a visitar restos de soldados, e no meio do desespero daquelas lágrimas e dos gemidos doridos, deixámos laranjas, cigarros e o conforto do silêncio.
Anos mais tarde, bebendo o Pessoano Menino de Sua Mãe, escrevi, «Gira Espingarda de Menino».

Da guerra, três meses tinham passado.
Desmobilizado ficou, como também quase inteiro, o corpo chegado.
Parabéns recebeu na vila, em festa acolhido.
Foram foguetes, beijos, febras, sorrisos e vinho,
dançados com música de disco gravado.

Mas ninguém sabia...
Nem noiva, de espera incerta.
Nem mãe, de angústia desperta.
Nem pai, de choro escondido.
Que, de homem inteiro ele já estava perdido.

Nem mesmo o Pedrito,
neto da velha criada,
que em brincadeiras perseguia - de punho com gira espingarda -,
e imaginários inimigos matava
com o Tac, Tac, Tac, que fazia.

Ninguém viu...
Que o regressado querido,
o mesmo não estava,
como em passado havia seguido.
Antes:
com cruz ao peito de fala de salvação e, em mão levando,
espingarda de feito por troca de criação.
Agora:
de corpo desfeito,
em combate e destruição,
lembra-se entre choro gritante,
por criança ou ser,
que de diferente apenas tinha
- em declaração de homem crente -
branca é que não !
e que preta por ser,
a morte merecia, quando estendia a mão por pão.
Mas quando
(sem marcas deixar)
mostrou que restando, do soldado querido,
estar por terra deitado
encolhendo-se de medo tremido
- porque lembrança de outro tempo não descansa -,
ao recordar o som da morte por ele sentido.

Causou o silêncio entre a festança e a dança.
Só porque ninguém sabia...
Mas apenas tinha sido, sonhar de guerra em tempo perdido,
que em cruz de engano a Deus tinham traído,
por divino dever,
com o Tac, Tac, Tac que desfazia inimigo desconhecido,
em brincadeiras que fazia gira espingarda de menino,
em todo o seu ser de soldado há muito deixado de ser querido.



......

«África»

Oh África, no que te transformaram.
Eras terra felina, conto de mistério,
só que ficaste odiosa morada,
passada consequente, em morte e bala tratada.
De um lado, por perto: guerra,
de outro, por longe: apenas uma carta,
no meio: outra terra, outra gente.
Foste pesadelo infindável,
quer fosse noite, quer fosse dia;
em que vida,
resume-se a pensamento que não esquece,
que não é aquele, mas um outro.
o plaino adormecido,
tantas vezes sonhado.

Oh África, se tu adivinhasses
quantas vezes foram ditas,
em sonos fugidos: - Adeus terras secas !
Reconhecias, que por entre lágrimas e sangues,
há sinal que não desaparece:
É recordação no regresso,
é caminho certo no querer voltar.
E, por muito pequena que seja a esperança
- enquanto vivo –
é palavra que não perde,
é qualquer coisa que resta;
por muito grande que seja o desvio,
por muito prolongado o caminho.

Oh África, se tu adivinhasses,
o que representas para teus filhos,
decerto querias ser tudo,
menos terra, menos solidão.
Querias ser Deus, querias ser fogo,
apenas recordação de vida
é que não

terça-feira, 8 de março de 2011

PORTUGAL NO SEU MELHOR !

Recebi no meu Email uma mensagem digna deste PORTUGAL profundamente triste:

"Este anúncio foi publicado num famoso site de procura e oferta de
trabalho nacional. Um jovem recém-licenciado na área leu-o e achou que
devia responder à letra!

(A Revista Visão de 16 de Julho publica um artigo sobre o jovem que
deu esta resposta!)

ANUNCIO:
A (...não me indentificaram o nome da empresa...)está a aceitar candidaturas para estágio na área de Design
Requisitos Académicos: Finalista ou recém-licenciada(o) em Design
Competências pessoais:
* Poder de comunicação;
* Iniciativa;
* Auto-motivação;
* Orientação para resultados;
* Capacidade de planeamento e organização;
* Criatividade
Competências técnicas:
Conhecimentos nos seguintes programas/linguagens
- Adobe Photoshop,
- InDesign,
- Illustrator (FreeHand e Corel Draw) Flash,
- Dreamweaver,
- Premiere,
- AfterEffects,
- SoundBooth,
- SoundForge,
- AutoCad,
- 3D StudioMax
- HTML (basic),
- ActionScript 2.0 (basic),
- CSS,
- XML.
Remuneração: Estágio Remunerado
Duração: 6 meses, com possibilidade de integração na equipa

Portanto, e resumindo, esta empresa quer um recém-licenciado que saiba
de origem 13 softwares e 4 linguagens de programação. Isto é o país em
que vivemos.
Não me ficando atrás perante esta pérola, decidi responder no mesmo
estilo. Eis o que lhes respondi:

Boa noite,
Estou a entrar em contacto para responder ao anúncio colocado no site
Carga de Trabalhos para a posição de estagiário em Design.
Chamo-me André Sousa, tenho 25 anos e sou um recém-licenciado em
Design de Equipamento (Fac. Belas Artes de Lisboa).
Sou extremamente comunicativo, transbordo iniciativa e auto-motivação,
estou constantemente orientado para os objectivos como uma bússola
para o Norte (magnético), sou mais planeado e organizado que o
Secretário de Estado de Planeamento e Organização e sou um diamante da
criatividade como já devem ter percebido e como vão poder comprovar
nas próximas linhas.
Quanto aos conhecimentos técnicos:
Sou um mestre em Adobe Photoshop.
Conheço o InDesign por dentro e por fora.
O Illustrator, Freehand, Corel e o Flash são os meus brinquedos do dia
a dia, faço o que quiser com eles.
Nem me ponham a falar do Dreamweaver, até de olhos fechados...
Premiere... Até sonho com ele!
AfterEffects tem um lugar especial no meu coração.
Faço umas coisas bem maradas com o SoundBooth e o SoundForge.
Com o Autocad e o 3d Studio Max até vos faço duvidar dos vossos próprios
olhos.
Html, Action Script 2.0, CSS e XML são as linguagens do meu mundo.
Mas sejamos francos, qualquer estudante de 1º ano sabe de cor e
salteado qualquer um destes 13 softwares e 4 linguagens de
programação...
Eu sou um recém finalista. E como tal tenho muito mais para oferecer:
Tenho conhecimentos de Cinema 4D, Maya, Blender, Sketch Up e Paint ao
nível de guru.
Tenho conhecimentos mega-avançados de C+, C, C++, C+ ou -, Java,
JavaScript, Ruby on Rails, Ruby on Skates, MySQL, YourSQL,
Everyone'sSQL, Action Script 3.0, Drama Script 3.0, Comedy Strip 3.0 e
Strip Tease 2.5, Ajax, Vanish Oxi Action, Oracle, Sonasol, XHTML,
Batman e VisualBasic.
Conheço o Office todo de trás pra frente assim como o Microsoft WC.
Domino o Flex ao nível do Bill Gates e mexo no Final Cut Pro melhor
que o Steven Spielberg.
Tenho ainda conhecimentos de grande amplitude em 4 softwares que estão
a ser desenvolvidos por grandes marcas e também de 3 outros softwares
que ainda não foram inventados.
Falo 17 línguas, 5 das quais já estão mortas e 6 dialectos de povos
indígenas por descobrir.
Com estes conhecimentos todos estou super interessado num estágio
porque acho que ainda tenho muito para aprender e experiência para
ganhar. Espero que ao fim de 6 meses tenha estofo suficiente para
poder fazer parte da vossa equipa e quem sabe liderá-la.
Fico ansiosamente à espera de uma resposta vossa.
Embora tenha uma oportunidade de emprego na NASA e outra no CERN
espero mesmo poder fazer parte da vossa equipa.

Cumprimentos,
A. S.

PS: Com um anúncio desses, a pedir o que pedem a um recém-licenciado,
é uma resposta destas que merecem. Peço desculpa se feri
susceptibilidades mas não me consegui conter.»

domingo, 2 de janeiro de 2011

Hoje andei a recuperar textos que escrevi, uns num ontem mais longínquo, outros num ontem mais recente. Três escritos poéticos, sem preocupações de estilo ou regra, apenas revisitações de sentimentos e de palavras:

Quem sou ?

Como se pode descobrir sem se conhecer,
quanta diferença pode ter
o significado de vir correndo pelo tempo,
esperando passivo a revolta de não conseguir
ser diferente ao pretendido por ser.

Como posso descobrir o que de mim há-de vir,
se só consigo escrever quando em fuga me meto,
por caminhos de fumo ou de vinho bebido.
Não será aquilo que escrevo outra cousa que não sinto,
outra estrada de tempo ?
Porque, enquanto me oiço,
falando em silêncio,
a mim próprio mostro aquilo que gostava de sentir,
como sendo outro,
em vez do que pareço.

Mas…
se não sou eu, se sou outro,
como posso saber qual dos dois em verdade me sinto ?

*****

Quando descobri Pessoa,

Quando descobri Pessoa,
pegava num livro ao acaso.
Passava pelo tempo, folheando páginas sem ler,
descobria palavras que não sentia,
vivia desconhecendo que sabia sem saber,
que todo o sentimento pode ser,
apenas, vida.

Quando descobri Pessoa,
- Um dia... –
percebi que podia ver,
quanto uma criança pode ser poesia
ou um sentimento ser sentido.

Quando descobri Pessoa,
encontrei razão ao meu medo.
Ignorei-lhe a rima, e à pontuação não lhe liguei,
porque não era isso que me fazia saber
quanto eu sofria, quanto de cego estava perdendo.

Por isso.
- Obrigado Pessoa ! -.
Porque se a terra nos separa,
sentir nos une.

E, apenas, lamento,
a pena que eu tenho de não te conhecer em vida, d
e não te saber em jeito.
Porque, decerto, contigo abraçaria as palavras corridas,
de tudo o que se sente pela vida,
para que se grite de alma sentida no tempo.

Por isso.
Escrevi-te no meu diário,
copiei-te no meu quotidiano.
- Que importa que digam –
Usei-te, escrevendo palavras ditas em textos meus.
Porque, decerto que acreditarias
quanto de ti, poeta incompreendido,
em mim me vejo escrito.

Adorei conhecer,
que tu, Poeta,
em vida eras um ser
em escrita mais que um mundo,
mas sempre Fernando Pessoa.
Um homem com saber,
em que "crer é morrer",
mas amar é ter sentido.
E, por muita ilusão que pareça,
ensinaste-me: que é pensamento que se deseja.

Portanto,
não me digam, que em ti
- Fernando -
somente soa solidão e amargura escrita,
porque senão, pergunto:
desde quando, querer
“… considerar-me e ver aquilo que sou... “
não é poesia de humana pessoa ?

*****

[Justificações que a Razão desconhece]

Tudo é diferente quando me procuro,
por palavras que escrevo
em papel liso com tinta corrente.
Tudo é diferente quando por mim penso,
quando por mim sinto.
Tudo é diferente quando por minha mão,
posso dizer tudo, posso dar grito.

E se por entre momento,
em estradas distintas caminhando,
hajam pensamentos corridos,
– apenas porque quero ser diferente –,
antes andar fugido,
por entre mágoas e sentimentos
do que esconder o que penso, não escrevendo o que sinto.

Que vergonha pode haver
no chorar as palavras que oiço, se são verdade em desejo ?

Porque me obrigo a continuar naquilo que não quero ser ?
Porque continuo a não acreditar naquilo que sinto ?
Porque não me hei-de compreender no que sou ?
Se são imagens que persigo,
se são vozes que reconheço
em razões que rimam nos passos que dou,
com os sentimentos que comigo habitam.

Porque não hei-de ver
que o gosto de estar nesta forma distante,
é sentir que não se compreende,
é alma fria iludida;
é tudo interrogação diferente.

Um Natural Engano

Folheando o caderno onde guardo os textos que escrevi, encontrei o artigo que publiquei no «Jornal de Sintra», Escuta, Zé Ninguém !, e relembrei as leituras que fiz desse perturbador livro de Wilhelm Reich e da sua amargurante e pessimista actualidade. As palavras de então, encaixam sem uma folga nos momentos de agora, pelo que volto a citar, como se de exorcismo se tratasse, “o grande homem é, pois, aquele que reconhece quando e em que é pequeno. O homem pequeno é aquele que não reconhece a sua pequenez e teme reconhecê-la; que procura mascarar a sua tacanhez e estreiteza de vistas com ilusões de força e grandeza alheias.”
O Dejá vu da situação fez-me recordar os primeiros quatro anos da década de noventa e o que, então, escrevi:

Um Natural Engano

Em toda a natureza,
como sinal de vidas,
por entre céus, mares e terras luminosas,
de tonalidades e expressões devidas,
através de efeitos onomatopaicos de linguagens misteriosas,
com o seu quê de interpretação desconhecida,
encontramos no dia a dia
uma fala que nos é dirigida:
- a abelha que zumbe,
- o bode que bodeja,
- o boi que arrua,
- o burro que orneja,
- o camelo que blatera,
- a cobra que sibila,
- o corvo que crocita,
- o crocodilo que chora,
- a doninha que chia,
- o elefante que brame,
- o ganso que grita,
- a gralha que grasna,
- a hiena que uiva,
- o leitão que cuincha,
- o macaco que guincha,
- a mosca que zoa,
- o papagaio que palra,
- a pega que tagarela,
- o porco que grunhe,
- a rã que coaxa,
- a serpente que assobia,
- o urso que ronca,
- a vaca que muge.

....

Mas... oh, deuses !!
por natural engano
encontrámos, depois disto tudo,
em vulgares discursos diurnos,
um incómodo elemento
por entre toda esta vastíssima gama cantante
- nomeada em tal pandorga -
emergindo, qual surdo-falante,
simplesmente... um erro !
Era animal diferente,
que cismou ter o poder
de dominar o silêncio inteligente
através de ignorâncias sonoras,
no ser senhor com cognome de voz urrante,
tendo-se como Rei da Selva
de arrogâncias sentidas e perfiladas
e fomes endinheiradas e desmedidas.

Só que também... por natural sentença divina,
traia-se tal semelhante intenção de rugido,
do suposto Rei da Selva.
Pelo que de desconhecido se conhecia,
quando no sussurro de constante deletrear troca,
por vómito incompreensível de tamanha voz dissonante,
se escrevia após o "R"
o acrescento "ui" ditongolante,
e se repetia, agora de forma mais despreocupante,
que o antigo fonema "e" conhecido
se tinha transformado em vogal "i" dominante
sempre que bocal som se ouvia.