Folheando o caderno onde guardo os textos que escrevi, encontrei o artigo que publiquei no «Jornal de Sintra», Escuta, Zé Ninguém !, e relembrei as leituras que fiz desse perturbador livro de Wilhelm Reich e da sua amargurante e pessimista actualidade. As palavras de então, encaixam sem uma folga nos momentos de agora, pelo que volto a citar, como se de exorcismo se tratasse, “o grande homem é, pois, aquele que reconhece quando e em que é pequeno. O homem pequeno é aquele que não reconhece a sua pequenez e teme reconhecê-la; que procura mascarar a sua tacanhez e estreiteza de vistas com ilusões de força e grandeza alheias.”
O Dejá vu da situação fez-me recordar os primeiros quatro anos da década de noventa e o que, então, escrevi:
Um Natural Engano
Em toda a natureza,
como sinal de vidas,
por entre céus, mares e terras luminosas,
de tonalidades e expressões devidas,
através de efeitos onomatopaicos de linguagens misteriosas,
com o seu quê de interpretação desconhecida,
encontramos no dia a dia
uma fala que nos é dirigida:
- a abelha que zumbe,
- o bode que bodeja,
- o boi que arrua,
- o burro que orneja,
- o camelo que blatera,
- a cobra que sibila,
- o corvo que crocita,
- o crocodilo que chora,
- a doninha que chia,
- o elefante que brame,
- o ganso que grita,
- a gralha que grasna,
- a hiena que uiva,
- o leitão que cuincha,
- o macaco que guincha,
- a mosca que zoa,
- o papagaio que palra,
- a pega que tagarela,
- o porco que grunhe,
- a rã que coaxa,
- a serpente que assobia,
- o urso que ronca,
- a vaca que muge.
....
Mas... oh, deuses !!
por natural engano
encontrámos, depois disto tudo,
em vulgares discursos diurnos,
um incómodo elemento
por entre toda esta vastíssima gama cantante
- nomeada em tal pandorga -
emergindo, qual surdo-falante,
simplesmente... um erro !
Era animal diferente,
que cismou ter o poder
de dominar o silêncio inteligente
através de ignorâncias sonoras,
no ser senhor com cognome de voz urrante,
tendo-se como Rei da Selva
de arrogâncias sentidas e perfiladas
e fomes endinheiradas e desmedidas.
Só que também... por natural sentença divina,
traia-se tal semelhante intenção de rugido,
do suposto Rei da Selva.
Pelo que de desconhecido se conhecia,
quando no sussurro de constante deletrear troca,
por vómito incompreensível de tamanha voz dissonante,
se escrevia após o "R"
o acrescento "ui" ditongolante,
e se repetia, agora de forma mais despreocupante,
que o antigo fonema "e" conhecido
se tinha transformado em vogal "i" dominante
sempre que bocal som se ouvia.
domingo, 2 de janeiro de 2011
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