Reencontro com momentos de desabafos solitários, escondidos na gaveta da memória.
Escritos num outro tempo, sem qualquer intenção de serem um começo, um meio ou um fim de qualquer coisa e tendo, apenas, como elemento comum a representação dos tumultos e conflitos íntimos de um homem que, apesar de se sentir bem consigo mesmo, estava contraditoriamente sem saber se gostaria ou não de ter sido outro homem.
Escrever.
Escrever e continuar a escrever. Sempre o que sentes.
Escrever é procura constante.
Escrever é ideia perdida que não se consegue esquecer.
Escrever é algo para sentir, sem ter necessariamente sentido.
Escrever é lágrima e sorriso por sensação.
Escrever é quando um viver depende de um querer.
Escrever é ser solitário por entre a multidão.
Escrever é estar triste ou contente.
Escrever é dominar tormenta.
Escrever é não ser vencido mas vencedor.
Escrever é conquistar por dor.
Escrever é gritar o que se sente.
Escrever é ignorar vergonha de ter ou ser.
Escrever é castelo que tenta.
Escrever é imagem que se percorre.
Escrever é flor que se deseja.
Escrever é corpo que treme.
Escrever é tristeza que fica.
Escrever é recordação que não morre.
Escrever é companhia divina.
Escrever é sentimento de contentamento.
Escrever é ciúme de troca.
Escrever é saudade que lembra.
Escrever é temor de doente.
Escrever é quando se compreende.
Escrever é a fuga escondida que toca.
Escrever é pequena palavra de crente.
Escrever é tudo e apenas amor.
E, tudo ainda, no escrever... o que se sente.
......
Insisto
Quero a noite !
Quero a infinita luz que ela tem,
porque, enquanto me percorro,
caminho ouvindo os meus passos
e livre me sinto para pensar ilusão.
Quero a noite,
para me dissolver em volúpia,
mutação de corpo em alma,
fim de fronte1ra desta vida,
em desejo que domina a dor por gemido.
Quero a noite,
porque não existe ruído
e sim, sensação, choro e grito.
......
Quando salto aquele muro
Escuto a música enquanto as vozes se confundem
em misteriosos desígnios.
Ouço falas, ouço risos,
como cantares que saltam com palavras que deslumbram.
Espero,
até que surge,
por entre nuvens de alegria e pensamento,
aquilo que é o meu vinho:
o sonho que sinto.
É melodia que avança,
como névoa que se interioriza no meu ser,
quando suavemente percorre todo o meu corpo.
É voz que me diz ser outro,
em oferta que me preenche,
por riso e companhia;
E que, por vezes, me faz ser diferente
quando me ensina aquilo que verdadeiramente sinto.
É caminho através de outros céus.
São estrelas quentes que derretem outros ventos,
que afastam antigas recordaç3es.
É sentimento a que ergo a minha ternura,
com brilho de olhos a lutar por procura,
em fim de estrada de solidões.
É amor, desejo, rumo eterno
que nega a chegada de qualquer outro momento.
É querer viver paixão,
em amar sem conseguir descrever o tempo,
noutra cousa, que não seja aquilo que sinto,
quando sempre salto aquele muro,
como se tratasse de outro sentimento.
Solidificadas as ideias...
Houve tempos que percorri passos de grande mundo.
Pensei ser muito, quis ser outro.
E, por mim, vi que para construir tudo, só lutando pela morte de monstro, que com correntes toma o pensamento,
transformando homem livre em ser preso, obrigando-o a combater por ser outro.
Sonhando. Em guerreiro de filosofias conquistei.
por minhas vidas em luta combati,
à procura de pão, paz e utopias.
Agora, por muito diferente que eu seja,
além deste momento, ficará por sentido desejo,
a ideia que resta de ser igual a quem esteja
em sol e sofrimento, mas sempre livre neste ensejo.
E, por muito que digam, entre boca e dentes,
que papoilas em campo são todas diferentes.
Eu respondo:
Foi em terra de saber que semeei, foi em trabalho que vivi.
Eram frutos, eram desejos, transformados em tijolos de sentimentos.
E, entre todos eles, eu sempre senti,
que por muito distintos que sejam, por todos eles
até qualquer Deus disse sim.
Agora que sinto que estou perto do fim,
grito por aquele contributo,
– onde justiça serve para ser paz –,
porque de ideal tomado pode a voz haver muito,
enquanto a palavra será tudo, quando igual for
todo o ser dono deste mundo.
E, mesmo com a certeza que tenho de em pó me transformar,
pelos tempos, a vida neste mundo,
posso pensar em querer que transformadas as ideias,
– quer sejam por momentos ou inteiras folhas –,
desde que em todos estejam criadas, bastará o pensamento falar
para que fiquem como casas, com paredes e telhas,
porque ventos, não vão os homens conseguir mudar.
......
quinta-feira, 24 de março de 2011
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