‘A HISTÓRIA
REPETE-SE SEMPRE, PELO MENOS DUAS VEZES’
A presente imagem,
retirada do semanário ilustrado Branco e
Negro, de 26 de Abril de 1896, captando o momento de paragem e descanso dos
setenta e dois ciclistas, sócios da associação lisboeta ‘Velo-Club’, no seu
organizado e empreendido primeiro passeio oficial a Queluz faz-nos pensar que
passados 120 anos a moda da “bike” e do circuito ciclístico domingueiro, pelas
estradas dos arrabaldes de Lisboa, não é, afinal, tão original como fenómeno de
época, como se pretende que seja.
Segundo a mesma
notícia, também este evento de manifesta expressão física, de um grau de
dificuldade inerente ao esforço praticado e reconhecido no propósito do seu
percurso – admitimos nós, efectuado por caminhos sinuosos e acidentados, irregularmente
empedrados ou de macadames esburacadas –, apresenta-se como uma realização de
salutar registo e de grande incremento na sociedade portuguesa. Aliás,
ignorando-se o elemento de diferença tecnológica e o seu factor de conforto
decorrente, existente entre as ‘máquinas’ e os ‘equipamentos acessórios’ das
duas épocas, o obstáculo da prática da actividade ciclística consegue ser comparável
às actuais dificuldades impostas a quem a pratica hoje por percursos de
“todo-o-terreno” ou palmilhando os infindáveis quilómetros de alcatrão, numa
partilha forçada de faixa de estrada e de perigos decorrentes. E isto, não
esquecendo que, então, as maiores preocupações ambientais seriam evitar-se as
bostas deixadas pelos animais, enquanto, agora, nestes tempos de modernidades
circulantes, há que pensar nas inconveniências das sucções dos fumos saídos dos
tubos de escape.
Paralela e
independentemente da passagem do tempo, mantém-se um ponto final convergente na
organização destas marchas, honradamente documentados como acto de dedicação,
propósito e vivacidade de actividade: tudo finda num bom, demorado e regado
almoço.
***
Três números depois,
a revista Branco e Negro, agora de 17
de Maio, volta a abordar o assunto dos exercícios da educação física que estão
a ser incrementados na sociedade portuguesa. Desta vez pegando num ‘passeio de
andarilhos’, também ele iniciado em Lisboa e com términus junto ao Palácio de
Queluz.
Apesar de não ter
havido uma participação significativa – afirmando-se na reportagem ser
incompreensível a razão da limitada aderência em virtude de ter havido um
prévio acordo de associações –, a actividade reuniu trinta e seis ‘rapazes’ que
vestidos com o vestuário apropriado e calçados de alpercatas brancas de sola de
cortiça, percorreram o longo percurso, iniciado em Lisboa pelas seis e trinta
da manhã, de uma forma rápida e sem percalços, chegando a Queluz na ‘melhor
disposição de espírito e de corpo’.
Também aqui, e em
proveito de oportunidade, somos de admitir que estes andarejos de finais do
século XIX têm em fundamento e objectivo as mesmas razões que as actuais actividades
de passeios pedestres.
Na realidade, em
leitura de pensamento hegeliano, ‘A
HISTÓRIA REPETE-SE SEMPRE, PELO MENOS DUAS VEZES’.
Eugénio Montoito
Baleia. 27 de
Janeiro de 2016
Sem comentários:
Enviar um comentário