domingo, 20 de setembro de 2015


“Diz-me e eu esquecerei,
Ensina-me e eu lembrar-me-ei,
Envolve-me e eu aprenderei”

Provérbio chinês

 

No sábado passado (12 de Setembro), o “Expresso” publicou na sua revista um artigo sobre a Escola “mais elitista do mundo”, o Elton College.
Esta realidade não me impressiona nem me atrai, pois ela representa, para mim, o privilégio exclusivo do dinheiro e o segregacionismo que a sua posse cria.
Segundo o artigo, «o ensino em Elton College [‘pouca coisa mudou no último século’] continua a ser de luxo, sustentado em 2015/16 por uma propina anual de 35.721 libras (€ 48.884) por aluno, um valor-base (…) ao qual se têm de adicionar várias despesas suplementares com uniformes, lições de música ou viagens de estudo».
De igual modo, não me espanta que o “Elton College” (e todas as outras escolas de igual modelo espalhadas por este mundo), a par das suas instalações de aulas, tenha estúdios de artes plásticas, bibliotecas, salas de teatro e de música, laboratórios de línguas e para outras aplicações científicas, salas de actividades complementares, pavilhões desportivos, piscinas e salões multifunções e, no seu exterior, espaços adaptados a várias práticas desportivas, criando esta dimensão edificada, por si, a demonstração dual do privilégio e da diferença para com a realidade comum.
O que, na verdade, me impressiona e acaba por me incomodar é a falta de sensibilidade, a pouca inteligência e a existência de opções que ignoram a procura do bem colectivo, manifestados pelos nossos governantes, ao não seguirem estes exemplos de estratégia de gestão educacional e os adaptarem à nossa realidade e à nossa dimensão económico-social.
Obviamente que compreendo que haja um propósito, por parte das elites e dos seus ‘cabos-de-mão’, de não desenvolver acções que possam proporcionar uma igualitária oportunidade, para que desse modo possa sempre haver uma estratificação social constituída por poderosos, capatazes colaboracionistas, plebeus e, no fim da pirâmide os descartáveis. De igual modo compreendo que a elite mundial procure assegurar o seu mundo de poder, numa espécie de rede de influências identitárias, assente numa filosofia de vida e de ligação entre os seus ‘discípulos’.
Ora, a educação é um perfeito processo para criar essa ligação e essa rede. Por isso, os meios e as oportunidades proporcionadas por esta escola correspondem a opções pedagógicas ideais para desenvolver um sistema de ensino e, consequentemente, de aprendizagem estimulante e construtor de valores, atitudes e competências que permitem aos jovens estudantes adquirir, a par de um conhecimento específico, autonomia, criatividade, desempenho eficaz e destreza de liderança.
Mas, a essência substantiva (passe a redundância) deste modelo pedagógico que proporciona a concretização dos objectivos de criar uma elite dentro das sociedades está para além das particularidades das edificações, das suas especializações e dos hectares que elas possam ocupar. O modelo assenta nos pormenores observados no acompanhamento do aluno e da sua vida académica e social, através de tutorias permanentes, na metodologia de ensino que impõe a existência de turmas de dez ou pouco mais alunos, ministradas por professores de nível profissional elevado, quer, ainda, na aplicação de recursos humanos específicos para a educação, que inclui pessoal profissional envolvido de forma directa no ensino e instrução dos alunos, de professores de acompanhamento nos períodos de estudo, de professores do ensino especial e outros profissionais que trabalham com turmas completas ou com pequenos grupos/ou individualmente em salas de recursos ou no exterior da sala de aula regular, como também, toda uma panóplia de pessoal cujas funções estão incluídas na gestão normal da escola.
A aplicação deste critério metodológico de ensino é que me impressionou, deveras, pois por aqui podemos ver quanto errado estão os decisores que governam a nossa educação. Estão errados quando estabelecem as sustentabilidades económicas do nosso ensino e, sem apresentar qualquer justificação, reduzem brutalmente os apoios, ignorando as expectativas dos alunos, os transtornos familiares e as consequências laborais e de funcionamento das instituições educativas. Estão errados quando estabelecem os critérios metodológicos dizendo que as turmas têm de ter trinta alunos (ou um pouco mais), que os horários dos alunos têm de ser preenchidos com programas enciclopédicos, rígidos, inflexíveis e que aulas no exterior ou visitas de estudo são luxos desnecessários.
Noutras reportagens, temos lido que em pequenas nações, também elas sem ouro, petróleo ou grandes domínios empresariais, com economias alteradas e reestruturadas, nas últimas décadas, conseguiram deixar de ser países dominantemente rurais para passarem a ser reconhecidos como países tecnologicamente avançados, sendo a razão da alteração apontada como resultado do que foi feito nas áreas da educação.
Ter uma dezena de alunos, ou um pouco mais, por professor não é uma metodologia exclusiva do “Elton College”, ela é, isso sim, uma das medidas escolhidas pelos países que mais apostam na educação como processo fundamental do recriar permanente das suas bases humanas e sociais. A Dinamarca, a Irlanda, o Luxemburgo, a Holanda, a Suíça e os Estados Unidos que têm os professores com salários mais elevados, depois de 15 anos de experiência, são exemplo disso, enquanto a Austrália, a Finlândia, a Noruega e, novamente, o Luxemburgo apresentam os rácios mais baixos entre alunos/professores.
Segundo as finalidades educativas para o séc. XXI, defendidas por Jacques Delors no seu relatório “Educação um Tesouro a Descobrir”, entregue à UNESCO em 1996, as ideias de aprender a ser aluno, aprender a conhecer, a fazer e a viver com os outros, são parte integrante e indissociável do percurso educativo que visa contribuir tanto para o sucesso escolar, como também formativo de cada aluno, pelo que o processo de ensino e o ambiente de aprendizagem são, por excelência, os elementos estratégicos de qualquer sistema de educação.
Compete ao professor ajudar a apreender a matéria curricular e, simultaneamente, ensinar os alunos a compreender a complexidade do mundo que os rodeiam. A primeira, através da exposição e debate na sala de aula e na ‘descodificação’ e leitura dos manuais e sebentas e, a segunda, através de processos que remetam os alunos para contacto com conteúdos que proporcionem o entendimento do seu património memorial, das tradições comunitárias, da natureza envolvente, das culturas diferenciadas e do meio social onde eles se inserem, para que, desse modo, eles fiquem dotados de instrumentos que lhes permitam, numa dualidade constante, resolver problemas e situações fundamentais do seu dia-a-dia e aprender a analisar a realidade através de posicionamentos críticos que lhes possibilitem contribuir e fomentar, durante a sua participação na vida social, o respeito dos valores democráticos, das diferenças de pensamento e dos direitos à vida e à sua fruição.

 

Um Povo pode perfeitamente prescindir de uma auto-estrada, de um campo de futebol ou de um submarino porque a inexistência destas ‘particularidades’ não altera a vida desse povo. Mas já não podemos dizer o mesmo se não houver educação (sempre vista como conceito de qualidade e não do que é possível haver). Ela é um direito fundamental de vida do individuo e da sua representação social, porque através dela os povos conseguem garantir o seu desenvolvimento, a sua identidade como grupo e, consequentemente, o apreender, o compreender e o saber aplicar e cumprir os seus direitos e os seus deveres como seres humanos, na perspectiva correcta de sobrevivência e de perpetuação da espécie.
Há ‘gorduras’ no Aparelho do Estado que têm que ser cortadas. Concordo com a contestação do facto, mas discordo, em absoluto, sobre as partes da identificação dessas ‘gorduras’. Os excessos não estão nos números de médicos, polícias, professores, arqueológos, juízes, administrativos, motoristas, assentadores de via, bibliotecários ou arquivistas que o nosso funcionalismo público possui, o excesso está nas mordomias e nos mordomos que existem colados ao aparelho. O Estado e os nossos governantes devem ser capazes de, dentro das áreas das suas competências, dominar os conhecimentos, as metodologias e técnicas de trabalho que levem a aplicação de alternativas equilibradas e justas que assegurem os padrões de excelência e a conveniente sustentabilidade da vida dos seus povos.
Ao nível do ensino, o Estado e o governo português deve conceber, planificar, organizar e conduzir o mesmo, de forma a conceptualizar e gerir as diversas situações de ensino, promovendo uma atitude científica e desenvolvendo estratégias conducentes à promoção das aprendizagens e da qualidade pedagógica do ensino e da escola.
O ‘saber fazer’, o ‘saber pensar’, o ‘saber viver’, o ‘saber partilhar’, o ‘saber dizer’, retirado da “Grelha pedagógica dos actos fundamentais da educação”, elaborada há mais de três décadas pelo sociólogo M. Jacques Grand´Maison, não devem ficar encerrados no tempo de aprendizagem escolar. Estes ‘saberes’ são mais do que princípios de estratégia pedagógica, eles são bases coerentes e dinâmicas de uma política de desenvolvimento social em que o conhecimento da realidade do meio, o compreender a escola como um lugar privilegiado para desenvolver o gosto por uma reflexão séria, autónoma e exigente, e educar a responsabilidade de se viver em comunidade e, incessantemente, renovar as relações dialécticas entre as liberdades individuais e as necessidades colectivas, o cultivar a qualidade das relações sociais e o promover uma mentalidade de aproximação entre as pessoas na aceitação da diferença de cultura, vivência e pensamento, são partes de um todo de uma forma de sentir e agir de um Estado e de um Governo de Bem.

 

SER POLÍTICO NOS DIAS DE HOJE


Somos de ouvir com muita frequência que os cidadãos não se interessam pela política.
Não concordo com esta tese.
Aliás, para ser verdadeira, esta proposição não podia representar, por si, aquilo que na realidade é: uma observação política. Ou seja, a minha discordância sobre a afirmação inconsequente de não haver interesse político fundamenta-se no reconhecimento de que estamos perante uma falsa questão, com o propósito de diminuir ou mesmo anular o sentido crítico e interrogante que existe em todos nós. Todo o ser humano questiona constantemente, critica tudo aquilo que o rodeia e age em conformidade com o seu pulsar opinativo, isto é, o seu ser político, independentemente, de se aperceber, ou não, até que ponto houve influência do meio, das circunstâncias ou dos interlocutores que o rodeiam.
Mesmo a resposta laissez faire, laissez aller, laissez passer, legendada pelo habitual “encolher os ombros”, com que identificamos, tantas vezes, a espera messiânica por algo que queremos que aconteça, efectuado por alguém que nos substitui no agir e, consequentemente, no dever de ter um papel de interveniente activo, não deixa de ser uma afirmação política, mesmo que reconhecida como atitude de passividade preguiçosa.
Obviamente, que somos defensores da ideia que os cidadãos não se devem transformar em seres domesticados ou de adereço, servindo de suportes militantemente acríticos de quem tem o poder de conduzir, quer como resultado de vontade própria, quer legitimamente determinado por recebimento inscrito nas decisões de outrem. Compreendemos e damos força ao pressuposto que se deve, democraticamente, exigir aos cidadãos uma intervenção na vida da comunidade e como participante na construção do bem-comum. Apenas, não inserimos nesta exigência o recorrente sentido hegemónico e exclusivista das interpretações dos pensamentos, mas sim, e sempre, o seu invés, inscrito numa postura edificada na base do espirito aberto, de encontro e de colaboração com o outro, em que o aceitar a existência das diferenças do pensamento, desenhadas no ser e no estar particular de cada individuo, não é, por si, um obstáculo. De igual modo, também não aceitamos cedências às determinações que se imponham como “moeda de troca”, por necessárias conveniências de reconhecimento e de garantia de existência, no mundo das comunidades e das suas situações.
Neste sentido, consideramos que é possível defender e aplicar os valores éticos e inalienáveis do exercício da vida colectiva, mesmo sabendo que esta dimensão plural do grupo não altera (nem deve condicionar), a interrogação do espirito critico e de contestação individual. Não há monopólios das ideias. O Mundo (o nosso Mundo) é constituído por muitos intervenientes e preenchido por todos os contributos como pequenos tijolos que edificam as paredes da nossa experiência e, obviamente da nossa memória.

Enfim. Dia 4 de Outubro vou votar.
Faço-o porque independentemente da identificação e do proveito do resultado, sou um ser político.



Em quem vou votar? Não vos digo. O Voto é secreto, só eu e Deus é que sabemos (acrescento a minha mulher também. Neste caso, é uma partilha natural de confiança e cumplicidade de pensamento, fruto de uma vida em comum).
Mas, será sempre na ideia de corrigir o que está mal para mim e para todos.