A quem me procure e não me encontre.
Naturalmente, que toda e qualquer mudança, quer seja ela definitiva ou temporária, não deverá ser encarada como um acto de ruptura e afastamento da observação sobre um "mundo” vivido durante três décadas, pelo que o hipotético descanso de uns e alivio de outros, de que longe da vista, longe do coração, não fará de mim um desligado de propósitos ou despreocupado critico. Para mim, a Sintra que vivi manter-se-á inalterável no que sinto sobre ela e naquilo que julgo que ela deve ser, conferindo-me este afastamento, isso sim, a frieza e a clarividência tão necessárias quando se trata de aplicar o ajuizamento de sentimentos.
Em decisão assumida, por encontro com o meu chegar ao tempo do meio caminho e a aproximação inevitável do fim de um percurso profissional, revejo a experiência dos últimos trinta anos, como já fazendo parte de uma lembrança de passado remoto, sentindo-a como saudades de momentos gloriosos, onde foram construídos, partilhados e fruídos projectos colectivos de geração.
Obviamente que, também, não posso esquecer as alterações feitas, em passados mais recentes, nas oportunidades criadas. Sou obrigado, em coerência com os princípios de liberdade e democracia que defendo, em aceitar que se tratou de um direito individual de opção política sob a causa pública, contudo, em conformidade com o meu direito a ter opinião e a sentir-me indignado, considero que alguns desses projectos de geração foram, simplesmente, na desconformidade de poderes pessoais diferentes, abandonados e substituídos por aportamentos folclóricos, mais orientados por visões de desencontros de ideias e pensamentos, identificadas no desconcerto e na vivência da necessidade de palco e protagonismo vulgar, tão próprio da incompletude frustrante e da incultura ignorante de quem não consegue acompanhar e, até, de contribuir para melhorar o que foi criado.
Na aprendizagem da recreativa leitura semanal (obrigado pela lembrança, Pedro Mexia), e na identificação do escrito, atrevo-me a uma clonagem e inserção de pensamento, e revejo o camoniano momento de “Esparsa ao Desconcerto do Mundo”:
«Os
bons vi sempre passar
No
mundo graves tormentos;
E
para mais me espantar,
Os
maus vi sempre nadar
Em
mar de contentamentos.
Cuidando
alcançar assim
O
bem tão mal ordenado,
Fui
mau, mas fui castigado:
Assim
que, só para mim
Anda
o mundo concertado.»
O poema serve na facilidade da minha consideração para reconhecer, também aqui, que fui quebrado pelo desconcerto do desalento, da incompreensão e do desânimo em que vivo no meu presente mundo, e porque não quero que ele faça de mim uma má pessoa ou um moldado ou submisso esperançoso amigo das circunstâncias, prefiro o recolhimento proporcionado pelo afastamento, mesmo que isso seja visto de forma falível e discutível.
Apresentadas as minhas razões e o meu sentir desencontrado sobre o estado em que o meu mundo se encontra – acrescido, esta semana, com um novo ministerial anúncio dos propósitos de se manter este estado de austeridade indigna e miserável por mais quatro anos -, e após satisfação ao meu pedido, instalei-me com bagagens e esperançadas vontades no Museu Arqueológico de São Miguel de Odrinhas. E, repetindo, novamente José Quitério, mas dando um sentido contrário às imposições que determinam o momento, direi que na imediata improbabilidade de um literal adeus, desejamos que seja, apenas, um penoso e diminuto até a vista
Obrigado pela atenção dispensada, o meu novo número
de telefone é o 219609520. A quem vos atender, basta pedir para falar comigo.