O último a
sair que feche a portɄ!
Nos meus encontros e arrumos com a História Contemporânea de Portugal, deparei-me com um panfleto sindical, datado de Dezembro de 1973, do Sindicato dos Empregados de Escritório e Caixeiros de Santarém, a apelar à luta e à reivindicação do pagamento do Subsídio de Natal.
Ora, esta
curiosa e interessante memória documental avivou-me as coincidências do tempo e
dos acontecimentos. De facto, hoje, em vésperas de comemorar 40 anos do 25 de
Abril de 74, sou comparativamente transportado para as amarguras, os
desesperos, as injustiças e os despropósitos de um estado de situação, também
ele comparável, à negra e insensível governança fascizante, de então.
Já pouco me
resta, sobre os argumentos do estar e do ser, para explicar às minhas filhas o
sentir e o significado dessa bela data de Abril, cantada e havida 40 anos
atrás. A mais velha, a meses de concluir um mestrado, prepara-se para emigrar
sem sequer ponderar, em alternativa, poder ficar. A mais nova, nos seus nove
anos de diferença, já lhe pede guarita de cama e apoio, lá nesse lugar para
onde a irmã quer ir viver, porque sente que será, também esse, o seu destino,
como forma de fugir a este presente que, constantemente, se prolonga na palavra
e na acção de homens que, apenas, vendem medos e demónios, enquanto usurpam, em
nome dos seus donos e dos seus colaboracionismos neoliberais, as nossas
esperanças e os nossos sonhos.
De facto, talvez seja verdade que o ‘chaimite’ que,
saído do Largo do Carmo, subiu a Avenida da Liberdade, ia vazio e não levava o
fim daquele outro tempo decrépito. Ele recriou-se na nossa tolerância
democrática e, agora, na oportunidade da liberdade que lhe demos, tomou-nos a
vida e o destino, enquanto, subtilmente, nos rouba o sonho construído e
ilude-nos com a esperança de querer e desejar que se cumpram os desígnios de um
único e possível Abril.
Fotos de Carlos Granja - 25 de Abril de 1974